Defender a inclusão racial não é defender vitimismo, nem tampouco nivelar o mercado de trabalho para baixo, como dizem alguns profissionais que nunca sentiram na pele algum tipo de preconceito.
Aliás, dizer isso é desconsiderar toda a história escravagista do Brasil, na qual os negros escravizados por mais de 300 anos, foram relegados aos subúrbios do país, sem qualquer possibilidade de inserção no trabalho remunerado após a assinatura da Lei Áurea.
Por isso, falar em igualdade de oportunidades carece de ações afirmativas, sem as quais o branco por compor a maioria nas classes sociais A e B leva vantagens em um processo seletivo para vagas de alto escalão.
Dados mostram a desigualdade reinante no país
Os negros e pardos representam 55% da população brasileira de acordo com dados da Rede Brasil do Pacto Global. No entanto, apesar de serem maioria numérica no país, eles correspondem a apenas 5% dos profissionais de liderança.
Existem alguns problemas que colaboram para esses números. Um deles é a própria qualificação profissional. Pois, como dissemos as classes sociais mais elevadas possuem um percentual de brancos muito maior que negros.
Basta estudar um pouco de história para entender isso. Logo, esses profissionais possuem mais tempo para se qualificar, dinheiro para cursar as melhores escolas, fazer intercâmbio, cursos de qualificação e etc.
Como consequência, ao chegar em um processo seletivo esses profissionais estão mais preparados tecnicamente para o cargo, evidente. E une-se a isso o próprio preconceito estrutural existente em algumas empresas.
A mudança é benéfica para toda a empresa
Um grande problema das empresas atualmente é acreditar que somente conhecimento técnico justifica a competição por um cargo. Afinal, se 55% da população brasileira é negra ou parda, o percentual de clientes de uma empresa é próximo disso.
Portanto, quando estamos falando em ações afirmativas para a inclusão racial nos cargos de liderança, estamos falando talvez em uma mudança na maneira como a empresa deve promover o seu processo seletivo.
Ou seja, é preciso pensar que esse profissional negro pode receber treinamento técnico para se tornar melhor na sua área, e contribuir muito mais para a questão estratégica da empresa, visto que ele é um potencial cliente.
Sendo assim, ele entende a visão do cliente de maneira muito mais profunda, ainda mais se o público-alvo da empresa for a classe C e D como na maioria dos casos. Isso quer dizer que uma ação afirmativa é benéfica para a própria organização.
Além disso, é só por meio desse aumento na diversidade nos cargos de alto escalão que teremos uma diminuição na própria desigualdade social do país.
A diversidade colabora para a solidez da empresa
Conforme vimos, a maioria dos clientes de uma empresa é composta por pessoas negras e pardas, ao passo que na alta hierarquia, poucos são negros e pardos. Logo, o alto escalão da empresa sequer tem uma proximidade com o seu consumidor.
Ao aumentar a diversidade dentro da companhia, esse alto escalão passa a ser composto pelo próprio público-alvo da empresa que então começa a entender a jornada de compras do cliente de maneira muito mais efetiva.
Isso quer dizer que o alto escalão passará a entender melhor as dores dos clientes, seus anseios, suas necessidades e poderá corrigir erros no produto que estejam passando despercebidos.
Esse aumento na empatia fará com que a empresa encontre produtos cada vez mais personalizados para seu público e como consequência terá aumento no lucro. Além disso, a própria imagem da empresa se fortalece no mercado.
Por isso, o aumento na diversidade nos cargos de liderança traz benefícios para o profissional negro e sua família que ascendem socialmente, para a sociedade que terá menos desigualdade, e para a empresa que terá mais lucratividade.